Aconteceram, no meio de julho, os 5° Jogos Mundiais Militares, aqui no Rio de Janeiro. E nele eu tive meu primeiro emprego remunerado, como receptivo bilíngue (apesar de não fazer exatamente isso durante o período). Fiz de tudo um pouco, ganhei alguma experiência e vi no que não me meter mais. Conheci muita gente, umas muito simpáticas e amigáveis, outras (poucas) as quais não faço a menor questão de rever.
No começo, a oferta me pareceu tentadora, afinal era emprego o que estava procurando. Fui sem o menor medo, apenas com a vontade de trabalhar, sem saber de nada sobre a empresa que me contrataria, muito menos pensando no que viria a acontecer. Fiz a entrevista, recebi um email dias depois, com contrato para assinar. Na semana seguinte, o treinamento (que para nada serviu), provou que hard times were about to come. Não porque seria um trabalho difícil, mas que seria algo terrivelmente desorganizado (a começar por me deixarem congelado e eu ter que insistir pra trabalhar). Não reclamo, continuo feliz pela oportunidade, e agradeço mais uma vez àquela que me arrumou isso de última hora.
Pois bem, comecei na abertura, no estádio do Engenhão. Muitos estrangeiros, tantos quantos nunca havia visto de uma vez só. E vinham em bandos, misturados, e deveriam ser separados por países. Parece fácil. Seria, se carregassem uma bandeira. Os uniformes muitas vezes não tinham nenhuma simbologia que correspondia ao país, então tinhamos que perguntar. Para montes, que não paravam de andar.
Não só nessa atividade ficamos. Em resumo, foi um dia cansativo. Na segunda seguinte, comecei a trabalhar na Vila Branca, uma das vilas de atletas. Era a mais distante de todas, uma sina chegar até ela (mesmo com transporte particular que nos arranjaram). Pela manhã, fizemos credencial e fomos arrumar alguns bottons, até a hora do almoço. A partir daí, começou certa rebelião. Não tinhamos almoço, nem onde almoçar. Descobriram o contrato inicial, que dizia os direitos dos contratados (os quais não estavam sendo repassados). Todos, exaltados, tiveram que comer coxinha numa cantina do quartel ao lado da vila. E o dia terminou numa revolta, sob a promessa de que no dia seguinte tudo seria resolvido (e não foi, a lenda começou).
Sobre os broches desse dia, pelo menos dois foram conseguidos arduamente pelas minhas companhias, com atletas que nem inglês falavam. O iraniano entendeu nosso pedido, mas não entendia nem o "obrigado" que falamos em várias línguas (menos a dele, obviamente). O chinês ficou feliz quando lhe cumprimentaram com "ni hao". Pegou broches e envelopes de carta bonitos da competição para nos presentear. De resto, só queria saber de ir pro Cristo Redentor, dizendo "Cristo, me, Cristo!", enquanto apontava no guia turístico. Os outros foram mais fáceis de conseguir, os portadores falavam inglês (mesmo que mal). Aliás, foi neste dia que notei que realmente o inglês dos africanos é diferente. MUITO diferente, carregado de sotaque. Percebemos com o nigeriano simpático que veio nos pedir para trocar dinheiro (que não conseguiu, aliás). Ao fim do dia, assistimos a uma canadense dançar muito bem todo ritmo que tocavam, e outros dois americanos, desajeitadíssimos, tentarem acompanhá-la.
Quarta-feira fui parar na competição de esgrima, com mais uma menina que conheci no dia. Era perto de outra vila, mas não tinha ninguém lá. Fomos recebidos com ar de arrogância pelo supervisor do evento, mas que em um milissegundo se tornou simpático, nos dando acesso à sala vip e alimentação no rancho. O primeiro dos bons. Conversamos o dia inteiro com um Tenente, de cabelos brancos já, muito easygoing, que mostrou fotos de sua casa em Friburgo, e de suas diferentes arrumações de cama que fazia todos os dias ao levantar.
Quinta-feira mudei os ares, fui para a competição de taekwondo. Não tinha sala vip, apenas a área dos atletas (com comida bloqueada para nós nesse dia) e o almoço. Assistimos a lutas e ajudamos a quem necessitava. Mais pins conseguidos, também. Na sexta fui para lá novamente. Então liberado para nós, o lanche da área dos atletas deixou todos felizes e prestativos. Conheci grande parte do pessoal nesse dia. Diverti-me com as loucuras feitas pelo garoto especial (Johnny Paul, o espírito livre) que estava trabalhando com a gente. Já com os bizus, comemos em um rancho melhor, deveras mais gostoso e simpático aos olhares. Até mousse de maracujá tinha!
Ganhamos muitos souvenirs do Canadá na sexta. Canadá, aliás, que tinha a delegação mais simpática e civilizada da competição. Em um dos dias voltei para a vila em um ônibus com um árabe no banco de trás, que perguntou a todos a sua volta se havia problema em colocar música no celular (sem os fones). Não podia negar, e ninguém negou também. E lá foi ele, a viagem inteira, com engarrafamento e tudo, ouvindo aquelas músicas estilo "O Clone" que torravam a paciência. Ao meu lado, dois atletas do Kazakhstan voltaram jogando PSP como duas crianças que acabaram de ganhar o console.
Sábado foi o dia que me deixou insano. Era sábado, mas eu não sabia que era. Os dias trabalhados anteriormente me deixaram completamente perdido no espaço-tempo, e tudo parecia estar fora de lugar. Voltei novamente à esgrima, praticamente sozinho. Quase não fiz nada neste dia, além de ficar na sala vip assistindo à esgrima e ao pentatlo militar. No fim da tarde, antes de ir embora para minha vila, levei um desaforo de uma polonesa, o qual tive que engolir. Custava um pouquinho só de simpatia?
Fui dispensado no domingo, pois pegaria os turnos da madrugada nos dias seguintes. A primeira, de domingo para segunda, foi atribulada. Quase fiquei sem transporte, por duas vezes (para ir e voltar à vila). De casa para a vila, da vila para a base aérea. Da base aérea para a garagem dos ônibus que transportavam atletas. Duas horas depois, com muita sorte (e depois do final do turno) conseguimos, Pablo (o argentino do português bom) e eu, voltar ao ponto inicial.
Na madrugada seguinte, nada a fazer. Um frio congelante do lado de fora. Conseguimos um apartamento desocupado na vila para dormir. E foi o que fizemos, basicamente, até o fim do turno. Acabei por dobrar meu turno. Depois que todos chegaram para o turno, apareceram uma filhote vira-lata e sua mãe, e ficaram brincando com quem estava por perto. Atividades não faltaram pela manhã, no checkout dos atletas que restavam. Pudemos tomar café da manhã no refeitório que antes não podíamos usar. E que café da manhã tomamos. Voltamos ao trabalho e ao papo, depois almoçamos lá também (com direito a dois picolés de sobremesa), felizes pela conquista da liberdade no último dia. Deste momento, passamos a contar os minutos que nos distanciavam do fim daquele trabalho que tanto nos havia enlouquecido. Às três da tarde, uma leva foi embora comigo. Todos felizes pela oportunidade de reaver as horas de sono perdidas e viver uma vida normal novamente.
Uma ótima experiência vivemos. A empresa que contratou a maioria virou carta a ser jogada fora e só lembrada na hora de ser recusada. Nos afirmaram e não cumpriram. Desconhecíamos os valores anteriormente, mas soubemos que as outras empresas pagavam o dobro ou mais do que nos era pago. Não me arrependo, levo como aprendizado.
Aqui estão todos os brindes que consegui nesta empreitada.
Agradeço mais uma vez à quem me deu a oportunidade. Obrigado também pela paciência.
WOW!!
semana boa e agitada!
ps:até q o filhote é bonitinho :}
beijomeliga ;*
Achei muito legal vc ter compartilhado a experiência por aqui! (: Gostaria de fazer um trabalho assim um dia...
E, realmente, se vc ganhou experiência, aprendeu coisas novas... Valeu a pena!
Bjmordida!